Quem acompanha meu trabalho sabe que os quadros sempre foram o
principal meio de manifestação da minha arte. Foi por meio deles, afinal,
que a minha obra tomou forma. Mas, sabe como é, o impulso criativo está
sempre presente, nos levando a buscar novas formas de expressão.
Foi justamente esse sentimento de inquietação, somado à vontade de
colorir o caminho das pessoas em um momento tão difícil, o que me levou
a enfrentar o instigante desafio de transpor a colagem em papel para a
arte de rua, utilizando a antiga técnica do lambe-lambe.
Assim, nos últimos meses, um grande muro lá na Rotatória das Artes, no
Jardim Rolinópolis, bairro em que cresci, tem sido a nova tela para os
meus recortes. Confesso que vem sendo uma experiência incrível superar
os desafios que o local impõe.
Esse tipo de parede tem propriedades que podem ser incorporadas na
arte, como texturas, arames externos e artes antigas. Por isso a criação
acontece ali, na hora, respeitando as características e se acomodando
onde lhe cabe. Assim como a natureza que nasce no meio de uma calçada
de cimento.
O processo criativo, entretanto, é muito semelhante ao realizado em telas
menores. Os recortes vão sendo colados conforme flui a inspiração, em
um “repente” de formas e cores, no qual uma ideia se contrapõe ou
completa a outra, levando a uma ebulição criativa, que resulta em um
verdadeiro mosaico de papel.
É mágico poder ressignificar uma técnica tradicional como a do lambe-
lambe - utilizada em épocas passadas para os mais variados fins, como a
divulgação de circos, o protesto político ou a manifestação religiosa -,
incorporando-a à produção artística contemporânea.
Você pode conferir um pouco desta experiência nesse vídeo. O Fê (meu marido) foi quem fez as imagens. Ele, aliás, é meu grande companheiro em todas essas aventuras. Nessa, emparticular, tivemos também o apoio da nossa pequena, que trouxe uma dinâmica especial à execução do nosso trabalho, rs.
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